Doces, carnudos, e suculentos, são tudo isso e, muito mais… Os figos podem comer-se secos ou frescos, secos têm mais calorias mas menos vitaminas do que os frescos.
A figueira foi das primeiras árvores a ser cultivada pelo homem, ainda antes do trigo e do centeio.
E ao longo da história a figueira assume funções religiosas e dá o contributo para o surgimento de muitas civilizações.
As figueiras ocorrem em todos os continentes, com excepção da Antártica.
A figueira do figo comestível (Ficus carica) é a primeira planta descrita na Bíblia, quando Adão se cobre com suas folhas ao notar que está nu. A origem da espécie parece ser do Oriente Médio.
O figo comestível era cultivado em todas as civilizações do Mediterrâneo na antiguidade, incluindo os povos egípcios, judeus, gregos e romanos. Tinha a vantagem de poder ser seco e se manter adequado à alimentação durante meses, ao atravessar o deserto, os povos antigos do Oriente Médio e norte da África utilizavam frutas secas (entre elas o figo) ricas em nutrientes e fáceis de conservar.
Como as espécies ocorrem nos continentes americano, africano, asiático, na Europa e na Oceania existem várias tradições culturais dos povos destes continentes que tratam de figueiras, incluindo tradições religiosas.
Nos textos islâmicos a figueira é uma árvore sagrada da religião
O figo é considerado um fruto sagrado para os judeus. Ele faz parte dos sete alimentos que crescem na Terra Prometida, segundo a Torá (Deut. 8), o Antigo Testamento dos cristãos.
São eles: trigo, cevada, uva, figo, romã, oliva e tâmara (representando o mel).
Para os maometanos a figueira também é sagrada, pois Maomé jurou por ela e pela oliveira na sura 95 do Corão, designada por "O Figo" e disse um dia que se pudesse levar um fruto para o paraíso seria o figo.
Para os budistas a figueira Ficus religiosa é venerada pois debaixo de uma delas, Buda alcançou a sua revelação religiosa.
Na Grécia antiga o figo era considerado um importante alimento e a sua exportação era proibida.
A descoberta por arqueólogos israelenses de que o figo já era cultivado na Cisjordânia há 11.400 anos, segundo a revista História Viva nº 41 - "Prato de resistência", demonstra que desde o neolítico o figo é ingrediente importante no farnel de muitas civilizações, especialmente o figo seco pois era conservado e armazenado para consumo em épocas adversas como o inverno.
No Egipto antigo o figo era o alimento usado para a engorda do ganso para a produção do foie gras (o fígado de ganso gordo) o que provavelmente deu origem ao nome da iguaria (foie, figo; gras, gordo) Também no Egipto, o figo era utilizado no preparo de pães artísticos, acrescentados à massa dos mesmos e a madeira da figueira era usada na construção de sarcófagos, as folhas eram usadas para fins medicinais e também faziam vinho de figos que continha muito álcool.
Na Roma antiga, a técnica de engorda do ganso foi introduzida por Marcus Gavius Apicius (gastrónomo romano do séc. I d.C.).
Foi debaixo de uma figueira que uma loba encontrou e amamentou Rómulo e Remo os fundadores de Roma.
Os Romanos cultivavam as figueiras por todo o Império e eram grandes apreciadores dos figos. Mas não foram os Romanos os primeiros a conhecer este fruto, foram sim os gregos, na Grécia a figueira era consagrada a Dionísio, Deus do vinho e patrono das festas onde os homens entravam com os falos enfeitados com figos
Ao lado do queijo e da cevada, o figo tinha um papel de destaque na Grécia antiga, principalmente em Esparta.
Os Maias e os Astecas utilizavam a casca de figueiras nativas da região para produzir o papel utilizado nos seus livros sagrados.
Uma delas fala da figueira cujas folhas taparam Adão e Eva depois da tentação.
Dizem que a sombra da figueira é uma sombra doente e que quem descansar nela acabará por sofrer alguma maleita.
Dizem também que era esta a verdadeira árvore do pecado, com flores e frutos e que Deus a castigou não lhe permitindo florescer e frutificar como as outras por ter encantado a Mulher.
Alguma vez alguém viu a flor da figueira?
Efectivamente o seu fruto não é mais do que uma flor interna que nunca abre, cheia de estames, pólen e néctar como as demais.
Os figos estão intimamente ligados ao corpo intimo da mulher.
Este texto evidencia essa ligação.
FigosA maneira correcta de comer um figo à mesa
É parti-lo em quatro, pegando no pedúnculo
E abri-lo para dele fazer uma flor de mel, brilhante, rósea, húmida, desabrochada em quatro espessas pétalas.
Depois põe-se de lado a casca
Que é como um cálice quadrissépalo
E colhe-se a flor com os lábios.
Mas a maneira vulgar
É pôr a boca na fenda e de um sorvo só, aspirar toda a carne.
Cada fruta tem o seu segredo.
O figo é uma fruta muito secreta.
Quando se vê como desponta direito, sente-se logo que é simbólico.
Parece masculino.
Mas quando se conhece melhor, pensa-se como os romanos que é uma fruta feminina.
Os italianos apelidam de figo os órgãos sexuais da fêmea
A fenda, o yoni
Magnífica via húmida que conduz ao centro.
Enredada
Inflectida
Florescendo toda para dentro com suas fibras matriciais
Com um orifício apenas.
O figo, a ferradura, a flor da abóbora.
Símbolos.
Era uma flor que brotava para dentro, para a matriz
Agora é uma fruta, a matriz madura
Foi sempre um segredo.
E assim deveria ser, a fêmea deveria manter-se para sempre secreta.
Nunca foi evidente, expandida num galho
Como outras flores, numa revelação de pétalas
Rosa-prateado das flores do pessegueiro, verde vidraria veneziana das das flores da nespereira e da sorveira
Taças de vinho pouco profundas em curtos caules húmidos
Clara promessa do paraíso
Ao espinheiro florido! À Revelação!
A corajosa, a aventurosa rosácea.
Dobrado sobre si mesmo, indizível segredo
A seiva leitosa que coalha o leite quando se faz a ricotta
Seiva tão estranhamente impregnando os dedos que afugenta as próprias cabras
Dobrado sobre si mesmo, velado como uma mulher muçulmana
A nudez oculta, a floração para sempre invisível
Apenas uma estreita via de acesso, cortinas corridas diante da luz
Figo, fruta do mistério feminino, escondida e intima
Fruta do Mediterrâneo com tua nudez coberta
Onde tudo se passa no invisível, floração e fecundação, e maturação
Na intimidade mais profunda, que nenhuns olhos conseguem devassar
Antes que tudo acabe, e demasiado madura te abras entregando a alma.
Até que a gota da maturidade exsude
E o ano chegue ao fim.
O figo guardou muito tempo o seu segredo.
Então abre-se e vê-se o escarlate através da fenda.
E o figo está completo, fechou-se o ano.
Assim morre o figo, revelando o carmesim através da fenda púrpura
Como uma ferida, a exposição do segredo à luz do dia.
Como uma prostituta, a fruta aberta mostra o segredo.
Assim também morrem as mulheres.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.
Foi desvendado o segredo.
E em breve tudo estará podre.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.
Quando no seu espírito Eva soube que estava nua
Coseu folhas de figueira para si e para o homem.
Sempre estivera nua
Mas nunca se importara com isso antes da maçã da ciência.
Soube-o no seu espírito, e coseu folhas de figueira.
E desde então as mulheres não pararam de coser.
Agora bordam, não para esconder, mas para adornar o figo aberto.
Têm agora mais que nunca a sua nudez no espírito
E não hão-de nunca deixar que o esqueçamos.
Agora, o segredo
Tornou-se uma afirmação através dos lábios húmidos e escarlates
Que riem perante a indignação do Senhor.
Pois quê, bom Deus! gritam as mulheres.
Muito tempo guardámos o nosso segredo.
Somos um figo maduro.
Deixa-nos abrir em afirmação.
Elas esquecem que os figos maduros não se ocultam.
Os figos maduros não se ocultam.
Figos branco-mel do Norte, negros figos de entranhas escarlates do Sul.
Os figos maduros não se ocultam, não se ocultam sob nenhum clima.
Que fazer então quando todas as mulheres do mundo se abrirem na sua afirmação?
Quando os figos abertos se não ocultarem?
D.H. Lawrence
Nota: As imagens publicadas foram retiradas da Internet pelo sistema de clic direito.
1 comentário:
Oxalá...
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